MATAR SAUDADES
Ultimamente,
ando pensando muito
nesse termo tão comum em
nossa linguagem
cotidiana: matar saudades.
A gente não mata saudades,
pelo menos não deveríamos.
Depois que fiquei
sabendo que existe
um pássaro e uma planta que
também levam esse nome,
aí então é que fiquei
mais receoso de estar sendo
ecologicamente incorreto.
Saudade é para ser sentida e
curtida como vinagrete,
é para ser uma coisa verdadeira,
tem de ser duradoura
e perene.
Mas,
saudade é isso mesmo,
um sentimento brega,
uma canção nostálgica,
um almanaque do amigo-da-onça,
mas pensando bem,
também pode ter um gosto
de Pasquim.
Eu sinto saudades de tudo:
odores, lugares,
amigos de trabalhos,
sorvete de pistache,
maçã do amor,
alguns beijos e até de
mim mesmo.
Saudade transformada
em imagem é um
enorme navio no comêço
e com o passar do
tempo vai se transformando
em uma jangada,
mas nunca deixamos de
vê-la no horizonte.
Saudade é insistente como
pernilongo em dia de calor,
resiste ao remédio,
às chineladas,
ao jornal,
mas não se deve
matá-la não!
A vantagem de não se
matar a saudade,
além de estar garantindo
a preservação da espécie,
é que sempre podemos contar
com a companhia dela.
Isso sem mencionar que
quando matamos uma
saudade estamos matando
um pouquinho de nós
mesmos e tudo o mais
que esteja envolvido
com a própria.
Por isso sou adepto da
liberdade total para
a saudade.
Ela deve poder exercer seu
direito legítimo de ir
e vir quando quiser e entrar
e sair do peito como os
pássaros migrantes.
Creio mesmo que vou
até instituir direitos
humanos para a saudade.
Se a saudade tivesse cor,
seria azul,
não aquele azul desbotado
de calça jeans,
mas azul como alma de Anjo,
azul de piscina em dia
de competição.
A saudade nas crianças
é transformada em lágrimas,
choro sentido mesmo.
Elas não desejam matar
a saudade,
só amenizá-la em um
colo aconchegante,
de preferência naquele
que pertença ao objeto
dessa saudade.
Isso me faz lembrar das
saudades que sentimos das
carícias dos que amamos
e já partiram.
Se a saudade tivesse uma
estação própria seria o outono,
mas uma coisa devo admitir:
que a danada da saudade rouba
nossa tranquilidade,
lá isso rouba!
A saudade parece
uma fome que não passa,
uma dor sem lugar fixo,
o outono dentro dos olhos...
Mas saudade não é para ser morta,
é para ser suavizada,
amenizada,
saciada e às vezes embalada.
Que seria dos compositores,
poetas, escritores, etc...
sem ela?
A saudade deve ser como
uma estrela muito brilhante
em nossas vidas,
pois à noite nos impressiona
e quase sufoca com seu brilho
e de dia desaparece só
para nos deixar com um
pouco dela mesma.
E dá para se viver sem saudades...?
Dá???
OBS.: Não encontramos fonte
ou autoria deste texto
em nossos arquivos
e na internet.
Caso saiba e queira
nos ajudar,
fineza nos informar através
do e-mail
mensagemdedomingo@toninholima.com.br,
para darmos os créditos
merecidos a
quem o escreveu.
* * * * *
Texto lido no programa
"Madrugada Viva Liberdade FM"
no quadro
"Momento de Reflexão"
no dia 30 de Janeiro de 2.013.
Comentários