CAMINHO
Não há caminho novo.
O que há de novo é o jeito
de caminhar.
Existe uma coisa difícil
de ser ensinada e que,
talvez por isso,
esteja cada vez mais rara:
a elegância do comportamento.
É um dom que vai
muito além do
uso correto dos talheres
e que abrange bem mais
do que dizer um simples
obrigado
diante de uma gentileza.
É a elegância que nos acompanha
da primeira hora da manhã
até a hora de dormir
e que se manifesta nas situações
mais prosaicas,
quando não há festa alguma
nem fotógrafos por perto.
É uma elegância desobrigada.
É possível detectá-la
nas pessoas que elogiam
mais do que criticam.
Nas pessoas que escutam
mais do que falam.
E quando falam,
passam longe da fofoca,
das pequenas maldades ampliadas
no boca a boca.
É possível detectá-la
nas pessoas que não usam
um tom superior de voz
ao se dirigir a frentistas.
Nas pessoas que
evitam assuntos constrangedores
porque não sentem
prazer em humilhar os outros.
É possível detectá-la
em pessoas pontuais.
Elegante é quem demonstra
interesse
por assuntos que desconhece,
é quem presenteia fora das
datas festivas,
é quem cumpre o que promete e,
ao receber uma ligação,
não recomenda à secretária
que pergunte antes quem
está falando
e só depois manda dizer se está
ou não está.
Oferecer flores é sempre
elegante.
É elegante não
ficar espaçoso demais.
É elegante não mudar
seu estilo
apenas para se adaptar
ao de outro.
É muito elegante não falar
de dinheiro
em bate-papos informais.
É elegante retribuir carinho
e solidariedade.
Sobrenome,
jóias e nariz empinado
não substituem a elegância
do gesto.
Não há livro que ensine
alguém a ter uma visão
generosa do mundo,
a estar nele de uma forma
não arrogante.
Pode-se tentar capturar esta
delicadeza natural
através da observação,
mas tentar imitá-la é
improdutivo.
A saída é desenvolver
em si mesmo a arte
de conviver,
que independe de status social:
é só pedir licencinha para
o nosso lado brucutu,
que acha que "com amigo não tem
que ter estas frescuras".
Se os amigos não
merecem uma certa
cordialidade,
os inimigos é que não
irão desfrutá-la.
Educação enferruja por
falta de uso.
E, detalhe:
não é frescura.
É a elegância do comportamento.
TEXTO DE: Thiago de Melo
* * * * *
Texto lido no programa
"Madrugada Viva Liberdade FM"
no quadro
"Momento de Reflexão"
no dia 01 de Agosto de 2.013.
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