O QUE OLHAR PARA TRÁS ME ENSINOU SOBRE VIVER “SÓ POR HOJE”.

Olhar para trás e, lá na frente, se dar conta de que passou pela vida e não viveu realmente. De que foi deixando aqueles sonhos mais bonitos irem morrendo aos pouquinhos, abandonados na mesma terra em que foram crescendo medos, mágoas e lembranças infinitas do que poderia ter sido, mas não foi. 

Olhar para trás e não se sentir confortável com as oportunidades que deixou passar, às vezes sem perceber, com os abraços que deixou de dar, as palavras todas que poderiam ter despertado sorrisos, mas que você não disse, e todas as outras que mais bem fariam se tivessem sido caladas.

Olhar para trás e perceber que, de tanto buscar a felicidade no extraordinário, você não conseguiu se dar conta de que ela já morava o tempo todo dentro de você. E que se expressava nos momentos mais simples, aqueles que você não dava muita importância, por achar que o significativo dependia de ocasião especial, quando, na verdade, os pequenos grandes momentos da vida já eram os especiais.

Olhar para trás e, lá na frente, ter a impressão de que existem lacunas, faltas, páginas e mais páginas que deveriam ter sido preenchidas com mais do que você sempre viveu de menos: conversa fiada na sala, dança desengonçada, cabelo despenteado, pés descalços, gargalhadas que fazem a barriga doer, frios na barriga, borboletas no estômago, brilho nos olhos, brincadeiras de criança, o doce preferido, uma carta de amor, cosquinhas, riscos, risos, sonhos.  Você. Onde estava você nisso tudo?

Olhar para trás e, lá na frente, perceber que se encolheu para caber no mundo dos outros.  Se dar conta de que, embora desejasse grande e sonhasse grande e fosse verdadeiramente grande em toda a sua essência, amou pequeno e se respeitou pequeno e se enxergou pequeno por causa de um monte de coisas que já não fazem mais sentido agora, mas que, inconscientemente ou não,  você deixou que guiassem a sua vida. E que matassem os seus sonhos.

Olhar para trás e descobrir que muitas vezes o que te faltou não foi coragem, mas propósito. Que você poderia ter sido tanto se apenas tivesse se permitido ser do jeito que era… Que às vezes é mesmo preciso se doer inteiro só pra descobrir que as porradas da vida nos fortalecem. E que não há dor que dure pra sempre. Nem nada que não possa ser perdoado.

Olhar para trás e, lá na frente, descobrir que o perdão tem muito mais a ver com você mesmo do que com o outro. E que perdoar não significa aceitar, concordar ou ter que dar as mãos e seguir em frente, mas, simplesmente, deixar ir. Porque quando a gente chega num ponto da vida e olha pra tudo o que fez ou deixou de fazer, a gente começa a reavaliar as próprias escolhas. E a questionar o quanto elas impactaram e têm impactado no que somos e no que ainda gostaríamos de ser.

E, então, é nesse momento que a gente entende que ainda não é tarde demais. Que, se estamos vivos, é porque ainda temos poder de escolha. E uma missão a cumprir no mundo.

Minha avó estava com noventa anos quando morreu. Uma semana antes de entrar em coma, lembro de tê-la escutado falar: “Tem dia que vale por toda uma vida, né?”.

E era do HOJE que ela estava falando.

Como eu sei disso? Porque foi nesse dia em que, pela primeira vez na vida, eu disse “Eu te amo” para alguém.

Hoje.

Olhar para trás e descobrir que, a vida, meu amigo, é um eterno só por hoje.

Só por hoje, faça valer a pena.

TEXTO DE: Ana Paula Ramos
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Texto lido no programa "Madrugada Viva Liberdade FM" no quadro "Momento de Reflexão" no dia 18 de Março de 2.017.
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